Cemitério encontrado em estacionamento tem corpos de mais de 100 mil escravizados

Uma pesquisa arqueológica revelou que o estacionamento da Pupileira, na Santa Casa de Misericórdia, em Salvador, abriga os restos mortais de mais de 100 mil pessoas escravizadas. O achado, que pode ser o maior cemitério de escravizados da América Latina, foi apresentado em uma reunião com representantes do Ministério Público da Bahia (MP-BA), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), da Fundação Gregório de Matos e do Ipac. Apesar da gravidade da descoberta, o local continua sendo utilizado como estacionamento.

A descoberta foi feita pela arquiteta e urbanista Silvana Olivieri, em sua pesquisa de doutorado na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Ao comparar mapas do século 18 com imagens de satélite atuais, ela identificou o cemitério no terreno da Santa Casa. As escavações começaram em maio deste ano, e logo nos primeiros dias os arqueólogos encontraram fragmentos de porcelana e objetos do século 19. Pouco depois, surgiram as primeiras ossadas, confirmando a existência do antigo cemitério.

Segundo registros históricos, o cemitério funcionou por cerca de 150 anos, inicialmente sob administração da Câmara Municipal e depois da Santa Casa, até ser substituído pelo Cemitério Campo Santo em 1844. Lá eram sepultados, principalmente, pessoas escravizadas, além de indígenas, ciganos e pessoas pobres. Também há indícios de que participantes de revoltas como a dos Malês e dos Búzios tenham sido enterrados no local, quase sempre em valas comuns, sem cerimônias religiosas.

A pesquisadora Silvana Olivieri solicitou que o espaço seja reconhecido oficialmente como “Sítio Arqueológico Cemitério dos Africanos”, em respeito à memória das vítimas. O MP-BA e o Iphan recomendaram à Santa Casa a suspensão do uso do estacionamento, reforçando a importância de preservar o local como parte fundamental da história e da memória negra de Salvador. Com informações do G1.

Categoria:

Deixe seu Comentário